“Fatos não possuem significado algum quando separados da interpretação dada por eles.” – Stephen Covey
Um paradigma é uma forma de ver ou entender algo, um modelo de interpretação, um padrão de referência. Quando nos deparamos com alguma situação, problema ou qualquer coisa que requeira de nós uma opinião, um ponto de vista, uma decisão, recorremos aos nossos paradigmas para interpretar a situação. Paradigmas são mapas que construímos para interpretar e para nos guiarmos na realidade da vida.
Entretanto, eles não são a realidade em si. Devido a isso, temos que partir do pressuposto de que eventualmente alguns de nossos mapas podem estar errados e nos levando a lugares aonde não desejamos ir. Você não pode começar a planejar a sua vida e organizar o seu tempo em cima de objetivos baseados em mapas errados, pois corre o risco de planejar o próprio fracasso.
Você deve se questionar e descobrir se os mapas que mantém da realidade o estão levando ao sucesso ou ao fracasso. Caso descubra que eles não o estão levando para onde você gostaria de ir, deve mudá-los e passar a adotar outros paradigmas.
Vejo que há muitos cursos e livros sobre como obter o máximo de si, como tornar-se mais motivado, bem sucedido, como desenvolver suas habilidades para obter melhores resultados, mas uma parcela ínfima aborda essa questão de paradigmas. Fico me perguntando, de que adianta você “se turbinar” se tem em mãos o mapa errado? É como você querer ir a algum ponto de Belo Horizonte tendo em mãos um mapa de São Paulo e, para chegar lá mais rápido, você equipa o seu carro, coloca gasolina aditivada, dirige em alta velocidade e pensa positivamente. Vai adiantar alguma coisa? Não. Você só vai chegar mais rápido ao lugar errado. Portanto, recomendo que tome cuidado com cursos e livros sobre como melhorar suas habilidades. Antes de tudo, você precisa saber se está indo realmente em direção ao lugar a que gostaria de se direcionar e ainda se esse é de fato o lugar aonde você quer chegar.
O grande problema da literatura de auto-ajuda é que tentam mudá-lo exteriormente sem modificar seus paradigmas. É como querer modificar a aparência física permanentemente utilizando truques de maquiagem. É impossível. As pessoas entram nesses cursos, ouvem um guru dizendo que suas idéias são capazes de levar qualquer um ao sucesso, de tornar uma pessoa motivada permanentemente, enfim, prometem mudanças que requerem alterações paradigmáticas, mas nem sequer tocam nesse assunto. As pessoas saem motivadas, achando que encontraram finalmente o segredo do sucesso. Uma semana depois, estão novamente encrencadas com seus problemas, desmotivadas e nem sequer se lembram do curso que fizeram.
Seja lá o que for que você queira mudar em você ou em sua vida, o primeiro passo é descobrir qual o paradigma por trás, ou seja, qual o modelo mental que você tem sobre aquele assunto e alterá-lo, fazer uma mudança no mapa, passar a ver a realidade de outra forma. Se não fizer isso, sua mudança será apenas superficial e durará somente o tempo que você conseguir segurar a máscara.
Os mapas que mantemos em nossas mentes se dividem em duas categorias: os mapas de como as coisas são (ou da realidade) e os mapas de como as coisas deveriam ser (ou dos valores). Todas as decisões que tomamos na vida são baseadas nesses dois grupos de mapas. O grande problema é que raramente questionamos esses mapas para sabermos se realmente eles refletem de fato a realidade, tampouco os atualizamos. Muitas vezes mantemos mapas que não fazem mais sentido para nós. Eles faziam sentido em determinada época de nossas vidas, mas simplesmente não os atualizamos e mantemos formas de pensar arcaicas, que não condizem com a realidade.
Boa parte de nossos paradigmas não foram criados por nós, foram adquiridos ao longo de nossas vidas do meio onde vivemos. Cultura, religião, sociedade, família, escola, ambiente de trabalho e amigos vão, à medida que crescemos, formando em nós um corpo de paradigmas que levaremos pela vida e que serão os principais influenciadores das decisões que tomamos.
Um único paradigma pode englobar uma forma de ver as coisas que interfere em uma série de outras coisas. Quando Copérnico disse que o sol era o centro do universo e não a Terra, ele mudou um paradigma e, junto com ele, uma série de outras crenças agregadas àquele paradigma. Copérnico não estava totalmente certo, mas descobriu algo que não correspondia à realidade: a Terra não era o centro do universo. Ele fez uma correção no mapa e abriu caminho para que, posteriormente, outros cientistas avançassem e melhorassem o mapa de interpretação do universo.
Assim deve ocorrer com nossos paradigmas pessoais. Não devemos esperar obter um retrato exato da realidade da primeira vez em que refletimos sobre a questão. Devemos formar um mapa, mas estarmos conscientes de que ele pode estar errado (ou incompleto) e estarmos preparados para questioná-lo e fazermos as alterações necessárias à medida que vamos percebendo novas faces da realidade.
Um grande obstáculo para manter esse tipo de atitude com relação aos paradigmas é que as pessoas se apegam a eles e temem alterá-los. De alguma forma, a possibilidade de admitir que o que você sempre acreditou sobre algo estar errado pode deixá-lo inseguro. Além do orgulho, muita gente não muda de opinião porque não quer dar o braço a torcer e adotar outro ponto de vista (mesmo que ninguém saiba disso, são orgulhosas para consigo mesmas). A disposição íntima, todavia, de mudar um paradigma pode valer a pena.
LEVANTAMENTO DE PARADIGMAS E MUDANÇA
Como, então, você descobrirá seus paradigmas e como os mudará, se for necessário? “Descobrir” não é bem a palavra certa, pois você já os conhece. O certo é, na verdade, torná-los explícitos para que você possa questioná-los e mudá-los.
Levantamento e mudança de paradigmas passo a passo
No dia em que estiver disposto a refletir sobre seus paradigmas, separe um período em que você tenha tempo de sobra, não seja interrompido e não tenha que sair correndo para algum compromisso. Essa é uma tarefa que exige calma e tempo.
1º PASSO
Separe duas listas: a de mapas da realidade e a de valores. Cada item, ou seja, cada objeto da realidade tem seus paradigmas e valores relacionados, portanto as listas devem ser preenchidas ao mesmo tempo. Separe temas que são importantes para você (como família, sucesso, sentido da vida, felicidade, saúde, etc.). Na lista de paradigmas, você deve escrever o que pensa sobre cada assunto e na lista de valores, as idéias resultantes – no quesito família, por exemplo, qual o modelo de família ideal na sua opinião? Os valores são pequenas frases ou apenas palavras que indicam seu posicionamento quanto ao assunto, os paradigmas são textos que explicam de que forma você vê aquele assunto.
2º PASSO
O passo seguinte é questionar se você faz o que acredita ou se age de forma contrária aos seus valores e paradigmas. Quando trazemos nossas crenças mais íntimas para fora, podemos perceber que nossas ações do dia-a-dia, mesmo sem querer, podem não corresponder com aquilo que acreditamos, ou seja, pensamos ir a um lugar, mas nossas ações diárias nos levam em outra direção.
O grande risco aqui é a autocorrupção, a tendência que temos de, segundo a conveniência, mudarmos nossa linha de pensamento para acreditarmos em algo que será de mais fácil absorção ou que não nos machucará tanto. Descobrir, por exemplo, que a atividade a qual você se dedica há anos o está levando para um lugar onde você não deseja estar pode fazer com que você acione algum mecanismo de defesa para se proteger da decepção de ter dedicado tanto tempo a algo que agora você vê como inútil.
3º PASSO
O terceiro passo é o teste de seus paradigmas através de projeções. Por exemplo, você é solteiro e acredita que ter uma família é fundamental. Em seus sonhos, a família ideal tem dois filhos, mora num bairro residencial tranqüilo e uma série de detalhes que sua imaginação é capaz de criar. O teste da projeção é tentar imaginar com a maior veracidade possível essa realidade que você acredita ser ideal. Em questões mais profundas, vale até ler livros, assistir a filmes para ajudá-lo a questionar-se se, de fato, dia em que conquistar aquilo que deseja você se sentirá satisfeito ou ficará com aquela sensação “mas eu lutei tanto pra isso?!”.
4º PASSO
Depois de identificar seus paradigmas e valores e questioná-los, o quarto passo é verificar se há alguma mudança necessária a ser feita. Mudar um paradigma ou um valor pode não ser tão fácil, mas vale muito mais a pena do que dedicar tempo utilizando o mapa errado e chegar a qualquer outro lugar, menos àquele em que você gostaria de estar.
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Fran Christy é formada em administração de empresas com especialização em planejamento estratégico. Fran vive em Seattle, EUA e escreve sobre desenvolvimento pessoal, produtividade e estratégias de vida.
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