domingo, 31 de outubro de 2010

A ARTE DE DECIDIR - por Pe. Joaozinho

O Arquétipo da Prudência

Pe. João Carlos Almeida [1]


Uma hipótese

Estamos buscando uma matriz de compreensão para o processo de discernimento interno à virtude cardeal da “prudência” conforme encontramos em Santo Tomás: recta ratio agibilium [2] . Parece que esta definição é algo mais do que a delimitação da extensão de um conceito. É antes a expressão de um arquétipo antropológico que nos permite entender o mecanismo pelo qual podemos tomar as decisões corretas nas mais variadas situações. Para confirmar esta hipótese faremos uma comparação dos conceitos tomistas com aquilo que encontramos no diálogo paradigmático entre a Virgem Maria e o Anjo Gabriel, registrado no Evangelho de Lucas [3] . Em seguida testaremos a mesma tese em uma leitura rápida da Encíclica Fides et Ratio [4] , de João Paulo II. Escolhemos estes dois textos por vários motivos. Um deles é que, para testar um arquétipo, é interessante comparar com amostras concretas de textos de diferentes procedências e de antiguidade diversa. Dois mil anos separam os textos que escolhemos. O Gênero literário também é diferente, apesar de uma certa confluência de todas as nossas fontes na filosofia e cultura grega. Seria interessante continuar a pesquisa comparando o arquétipo da prudência descrito por Tomás de Aquino com recortes de outras culturas e religiões. Este é um trabalho que fica por fazer.

Veremos que o arquétipo da prudência é composto de várias peças que “fazem funcionar” o processo de discernimento que permite tomar a decisão correta. Queremos explicitar este mecanismo para entender melhor o lugar específico da prudência.

O que diz Santo Tomás [5]

A virtude cardeal da prudência para Santo Tomás não significa aquilo que hoje o senso comum costuma ver neste conceito. Quando se fala que é preciso ser prudente, logo entendemos que devemos ser cuidadosos, cautelosos, não agir precipitadamente. Na verdade Santo Tomás vai mais fundo definindo a prudência como “a reta razão do nosso agir”. Este agir é um ato interno ao próprio agente, mas para ser prudente deve ser inteligível, ou seja, racional. Trata-se aqui não de mera especulação, mas de um intelecto prático que tem como critério a ação em vista de uma finalidade para a qual o sujeito modera seu apetite.

A virtude da prudência é essencial para a vida humana, pois pois como diz o nosso autor, “viver bem é agir bem” [6] . Ora, para agir bem é necessário fazer as coisas do jeito certo, ou seja, por uma decisão correta e não simplesmente por um impulso da paixão. Portanto, para tomar esta decisão é preciso conhecer o fim devido e os meios adequados a este fim. O ser humano está orientado para o bem enquanto fim. É natural buscar o bem. Mas a escolha dos meios depende de um “hábito racional”, uma “virtude intelectual”. Esta é a virtude da prudência, segundo Santo Tomás.

A prudência é como que a “mãe e guia” (genitrix et auriga) das virtudes. Ordenam-se a ela a memória, a inteligência, a docilidade, o raciocínio, etc. A docilidade, por exemplo, é esta capacidade de deixar-se ensinar. É esta abertura à voz do outro. É a capacidade de escuta atenta e obediente (ob-audire). Seria muito interessante aprofundarmos cada detalhe do conceito de prudência em Santo Tomás, considerando atentamente as virtudes que compõe o cenário mais complexo da prudência. Mas já atingimos nosso objetivo pontual de identificar o conceito de prudência como “reta razão do nosso agir”. Agora vejamos de que maneira surpreendente isto aparece no conhecido diálogo entre a Virgem Maria e o Anjo Gabriel e, em seguida, vamos iluminar tudo isso com as propostas da Fides et Ratio.

A Virgem Maria e o Anjo Gabriel [7]

O diálogo entre a Virgem Maria e o anjo Gabriel, registrado logo nas primeiras páginas do evangelho de São Lucas está longe de ser apenas uma bela peça de piedade cristã. É muito mais. Expressa com detalhes o arquétipo do diálogo entre o céu e a terra, entre o humano e o divino, entre a totalidade e a limitação, entre a graça de Deus e a a liberdade humana. Se compararmos este texto com o correlato evangelho da infância de Mateus (1,21) veremos que os fatos são basicamente os mesmos, porém Mateus apresenta o nascimento de Jesus do ponto de vista de José, enquanto Lucas registra o mesmo fato do ponto de vista de Maria. É neste contexto que se insere a perícope da “anunciação”, que estamos analisando. Estamos diante de um gênero literário bastante conhecido das páginas da Bíblia. Trata-se da anunciação. É interessante, por exemplo, fazer o paralelo com outro texto de anunciação contido no Livro de Isaías 7,14: “Eis que a virgem concebeu e deu à luz um filho e ela lhe dá o nome de Emanuel”.

Um estudo exaustivo seria necessário e oportuno. Mas vamos tentar nos fixar no propósito desta pesquisa que é entender o dinamismo interno da virtude cardeal da prudência como arte de decidir. Parece que podemos identificar na atitude da Virgem Maria pelo menos três momentos de uma recta ratio agibilium. Os três momentos poderiam ser assim identificados: retidão (recta), intelecção (ratio) e ação (agibilium). São três passos do mecanismo do discernimento. É uma estrutura paradigmática para a prudência. São três aspectos da fé: a fé que ouve, a fé que pensa e a fé que age. É claro que não estamos nos referindo à fé enquanto conjunto de dogmas religiosos ou como código de conduta moral, mas como adesão confiante e lúcida fruto de um diálogo que gera comunhão. Na verdade seria mais exato falarmos de “obediência da fé”, entendendo obediência não como mera submissão passiva, ou algum tipo de privação da liberdade, mas exatamente como escuta atenta que torna possível o diálogo e a adesão. Obedecer é fundamentalmente ouvir. O discernimento passa necessariamente por este diálogo que nasce da escuta. Só é fé verdadeira se atravessa este processo de prudência. Fora disso temos um caminho aberto para o fundamentalismo e para o fanatismo. A partir desta compreensão podemos ressignificar o sola fide de Lutero, pois a obra (agitur) é necessariamente interior à fé. Católicos e Luteranos têm aprofundado este diálogo com muitos frutos e novos consensos [8] . Vejamos mais de perto cada um destes momentos:

Retidão (recta): Diz o texto:

“Ora, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da Virgem era Maria. E entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve agraciada; o Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir estas palavras, turbou-se e pôs-se a pensar que saudação seria essa” (1,26-29).

Trata-se de um diálogo entre “pessoas” que têm nome. Está situado geograficamente em Nazaré, nos arredores da Galiléia. O céu na figura do anjo desce até a terra, ao contrário da tendência da maioria das religiões de subir aos montes para procurar Deus. Tudo acontece com os pés no chão, na realidade “humana”, na História. A primeira frase dita pelo anjo é uma verdadeira pérola que mereceria todo um estudo a parte. Este “salve” ficaria melhor traduzido por “alegra-te” (Khaire). Mas a palavra realmente central este versículo é “Kekharitoméne”, que alguns traduzem por “agraciada” e outros por “cheia de graça”. Esta Kharis (graça) significa a própria auto-manifestação de Deus por meio do seu Espírito. Daí deriva o termo “Carisma”. Ter carisma é ser portador do ânimo divino. Outra palavra em português que deriva do termo Kharis é “charme”. Ficaria muito bem traduzido se colocássemos na boca do anjo a seguinte expressão: “Alegra-te, cheia de charme, o Senhor está contigo”. Aliás, esta última frase é um verdadeiro refrão bíblico (hó Kyrios metá su). Este é o motivo da alegria e da graça: o Senhor está conosco. Lembremos apenas outro texto de anúncio teofânico registrado no livro do Êxodo e que narra o encontro entre o profeta Moisés e Deus na Sarça Ardente (Ex 3). Quando o profeta pergunta o nome de Deus a resposta é “Eu sou aquele que está contigo” (YHWH). Este nome tornou-se impronunciável contra a tendência dos povos vizinhos de utilizar o nome dos deuses de maneira mágica. Além disso, no horizonte de significados da bíblia, o nome contém a identidade mais profunda da pessoa. É por isso que alguns convertidos mudam de nome. Abrão, vira Abraão, Saulo vira Paulo. Esta essência pessoal é definida pela categoria de “presença”. Por isso para o universo bíblico a identidade de Deus é “estar no meio do seu povo”. Poderíamos passar em revista todas as páginas da Bíblia e encontraríamos esta insistência da parte de Deus: “Eu estou contigo”. Para garantir a soberana transcendência de Deus existem recursos literários como a metáfora do “anjo de Javé”, que na verdade é o próprio Deus presente na história. Os profetas e juízes também são sinais da presença de Deus. Além disso, temos as manifestações de providência como o Maná, manifestações de poder como a tomada de Jericó e conquista da Terra Prometida. Em tudo isso o povo acredita na presença de Deus. Por tudo isso é muito interessante que a primeira frase do mensageiro de Deus à humanidade representada em Maria seja exatamente esta: alegria, graça, presença. Mas de nada adiantaria esta manifestação do céu se não houvesse um interlocutor disposto a ouvir (obedecer). Maria é ícone da humanidade atenta e “ob-ediente” (ouvinte). Como diz o saudoso poeta Carlos Alberto Navarro: “És, Maria, a virgem que sabe ouvir, e acolher com fé a santa palavra de Deus (…) Crendo geraste quem te criou, ó Maria, tu és feliz” [9] . Podemos então caracterizar este primeiro momento da dinâmica da prudência em Maria como uma capacidade interior de escuta. Isto aparece claramente na frase seguinte que descreve a reação da virgem: “turbou-se”. A neo-vulgata [10] traduz como “ficou muito confusa”. Esta reação é muito importante, pois é ela que desencadeia o passo seguinte de “pensar no que significaria semelhante saudação”. Há quem traduza como “perturbou-se muito”. Precisamos antecipar as atitudes seguintes de Maria para entender o processo de discernimento contido nelas. Neste versículo 29 descreve-se o “espanto”, no versículo 34 virá a perplexidade (como se fará isso?), no v. 37 percebemos um consolo (para Deus nada é impossível) e finalmente no v. 39 vem a adesão (faça-se em mim). Esta seria a estrutura psicológica da prudência. É um processo de discernimento. Mas tudo nasce desta primeira atitude que chamamos, com Santo Tomás, de “retidão”, ou seja, de fé obediente, de escuta atenta aos sinais de Deus. A pessoa de fé é capaz de ouvir as novidades da Graça. Não vive de certezas congeladas. O fideísmo tem esta terrível doença, vive de certezas dogmáticas que não permitem ao Deus vivo dizer algo de novo. O fundamentalista não pode admitir o discernimento. O fanático não pode ser prudente. Ele não se deixa perturbar. Nega a sua capacidade de maravilhar-se, de ficar “encantado” diante das coisas mais simples onde Deus fala. Nunca ouve nada. Nunca vê nada. Nunca sente nada. Onde começa exatamente a prudência? Penso que é nesta capacidade humana de “turbar-se”. O filósofo sabe muito bem que toda a sua reflexão nasce fundamentalmente do “espanto”, do “assombro”. Não existe filosofia que não seja fruto de um sujeito maravilhado diante de coisas que passaram despercebidas por outros. Filosofar não é exatamente decorar um discurso de escolas, nomes, linguagem técnica e conceitos abstratos. A filosofia verdadeira exige silêncio, escuta e contemplação. Todo filósofo é um contemplativo. Há um momento em que filósofos e poetas se confundem, pois ambos buscam sua inspiração na intuição. No próximo item perguntaremos à Fides et Ratio o que têm a dizer sobre isso. Mas vejamos mais de perto o versículo 29: “Ela, porém, ao ouvir estas palavras, turbou-se muito e pôs-se a pensar que saudação seria essa”. Portanto ela turbou-se diante das palavras. Deixou-se tocar. Ouviu, turbou-se, assombrou-se, ficou maravilhada e pôs-se a pensar. As duas primeiras atitudes desencadeiam uma terceira que é a reflexão. Naturalmente há uma passagem para um segundo estágio deste diálogo de discernimento, prudência e fé: a intelecção!

Intelecção (ratio): A seqüência do texto bíblico que estamos analisando é praticamente um monólogo do anjo Gabriel. Mas não podemos esquecer que no versículo 29 o autor diz que Maria pôs-se a pensar no significado da saudação. Este monólogo angelical é, portanto, uma forma de expressar a própria racionalidade prudente de Maria. Nestas palavras está algo da compreensão humana da proposta divina:

“Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e seu reino não terá fim. Então Maria perguntou ao anjo: Como se fará isto, uma vez que não conheço homem?” (Lc 1,30-34).

A intelecção (ratio) é apresentada aqui em dois momentos. Um primeiro que é o da reflexão diante do espanto inicial. É uma espécie de racionalidade contemplativa. É uma reflexão silenciosa. Depois do espanto vem uma calma, uma paz, uma espécie de solidão reflexiva. É preciso a disciplina da prudência para ordenar todos estes meios sem ceder rapidamente aos apetites. É preciso evitar toda pressa e dispersão. É necessário evitar toda atitude precipitada. Não estamos nem perto do momento de dar uma resposta. O fundamentalista e fanático prefere pular este momento reflexivo, pois é uma área de areia movediça. De certa forma aqui não há certezas absolutas. É claro que esta “incerteza” é subjetiva e não objetiva. Explico melhor: o dogma tem um núcleo de verdades objetivas. Mas é sempre absorvido por um sujeito, passando pela crítica consciente ou inconsciente. Uma vez residente na subjetividade o dogma já não é absolutamente igual à sua formulação objetiva. Por isso creio naquilo que entendo. Ou seja, diante de certas distorções de compreensão o ateísmo é uma alternativa melhor do que a fé. De que adianta crer em uma distorção subjetiva de Deus. Indo mais fundo: alguns ateus insistem em não crer na fantasia de deus que criaram em sua subjetividade. Isto é pelo menos mais sincero do que crer acriticamente em uma fantasia como fazem alguns fideístas mal humorados que além do mais desqualificam o “deus” dos outros. Melhor absolutizar Deus e relativizar nossos deuses. Imagino que apesar de nossos ateísmos, Deus em si crê em nós, pois nele não há desnível entre objetividade e subjetividade. Deus crê nos ateus. Mas voltemos ao texto. Há um segundo momento da ratio. O primeiro foi a intelecção contemplativa. O segundo é a intelecção crítica. A Virgem Maria se atreve a questionar duramente a proposta do anjo a partir de seus conhecimentos: “como acontecerá isso, já que não tenho relações sexuais?” Esta seria a tradução mais correta para o versículo 34, concordam todos os estudiosos. A Tradução Ecumênica da Bíblia traduziu desta maneira e teve que mudar para não ferir a piedade dos leitores da Bíblia. Maria, por sua vez, neste sentido, não foi muito “piedosa” [11] . Preferiu a linguagem direta e árida própria dos semitas nômades do deserto [12] . É como se ela tivesse dito: isto é impossível de acordo com a racionalidade humana. Esta provocação exigirá uma resposta igualmente racional do mensageiro dos céus que virá nos versículos 35-37 quando o anjo explica com detalhes que tudo será obra do Espírito Santo; que algo semelhante já aconteceu com Isabel, grávida de João Batista apesar de sua idade avançada (prova experimental) e finalmente o argumento incontestável: “pois para Deus nada será impossível”. Agora só restaria a Maria tomar a decisão. É o próximo passo da prática do discernimento prudente. Mas ficou um ponto de interrogação em todo este processo. A frase definitiva com que o anjo termina o diálogo parece exigir uma atitude fideísta de Maria. É necessário crer que Deus será capaz de fazer tudo, até o impossível. É um argumento de futuro. Exige uma fé quase cega. Por outro lado esta forma de expressão tem uma certa descontinuidade com os argumentos anteriores, da gravidez de Isabel e das obras do Espírito Santo. Será mesmo que o arquétipo da prudência tem um momento de salto no escuro, de renúncia à racionalidade, de fé cega? Descobrimos que existe outra tradução possível e provável a partir da análise de variáveis nas diversas cópias manuscritas. Por outro lado, ressignificando esta tradução a resposta final de Maria ganha novo sentido no contexto da prudência que estamos analisando.

Ação (agibilium): O primeiro passo foi uma fé obediente, o segundo foi uma fé inteligente. Agora todo este processo desemboca em uma fé conseqüente:

“Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela” (Lc 1,38).

Esta é outra daquelas frases paradigmáticas e definitivas. A responsabilidade de Maria primeiro se abre em serviço disponível. Não se trata ainda de uma ação prática e voluntariosa. Somente na seqüência do texto isto aparecerá quando Maria sai “às pressas” para ir servir Isabel. É a continuação do processo de discernimento, da prática da virtude da prudência que poderemos analisar em outra ocasião. Já podemos perceber que a prudência não é como uma dessas ferramentas exóticas que temos guardado em algum lugar secreto apenas para serem utilizadas quando eventualmente temos que consertar a hidra do banheiro. Não é nem mesmo como talheres que utilizamos todo dia, mas apenas às refeições. A prudência é uma ferramenta permanente, diária, contínua. É melhor compará-la a uns óculos ou qualquer outro instrumento do qual não nos desfazemos em momento nenhum. Os óculos são um bom termo de comparação porque só o tiramos para dormir. Imagino que possamos esquecer um pouco a prudência durante o sono. A segunda parte da frase provoca uma certa confusão entre os tradutores. Normalmente ouvimos a seguinte versão: “Faça-se em mim segundo a sua palavra”. Na vulgata esta opção remetia à cena da criação retratada no livro de Gênesis, onde Deus diz “faça-se a luz” (fiat lux). No faça-se de Maria estaria um paralelo com o faça-se do Criador. Estaríamos, portanto, diante de uma nova criação. De fato a cena toda de Lucas tem algo de paralelo com o capítulo 1 do Gênesis. Veja por exemplo a expressão em que o anjo diz: “Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (v. 35). Isto se parece com o caos primordial onde o “Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,1) [13] . Mas esta disponibilidade criativa de Maria tem uma racionalidade pré-discernida. Faça-se em mim segundo a tua palavra. Houve um discernimento da proposta, da palavra, do logos. O anjo é mensageiro desta Palavra de Deus. Não é uma entrega absolutamente incondicional. Não é uma fé cega. O critério é a palavra ouvida, meditada, pensada, questionada. Mas uma coisa chama a atenção. no versículo 29 Maria fica espantada ao ouvir a “palavra” do anjo. O texto grego aqui usa o termo logos, para “palavra”. Já neste versículo 38 o texto grego é katá tó remá su, ou seja, utiliza remá para “palavra” ao invés de logos. Por que será que Lucas teria mudado a palavra se existe um explícito paralelo entre o versículo 29 e o 38? Na verdade a palavra remá aparece também no versículo 37 mas fica ocultada na tradução: “para Deus nada é impossível”. O réma, aqui poderia significar “coisa”, “palavra” ou “promessa”. Para dificultar ainda mais, o texto que recebemos diz “pará to Theú pan réma”, o tradicional “para Deus nada é impossível”. Mas parece ter havido uma alteração feita pelos copistas do Evangelho de Lucas para conjugar o texto com a tradução dos LXX que em Gn 18,14 que diz exatamente a mesma coisa: “para Deus nada é impossível”. O copista imaginou que Lucas na verdade teria querido fazer uma paralelo da frase vétero-testamentária, mas teria feito um erro gramatical. Tomaram o cuidado fazer a correção. Porém, o original, quase todos concordam deveria ser “pará tu Theú pan réma”, que poderia se traduzir como “Nenhuma palavra (ou promessa) da parte de Deus será impossível (ou falhará)”. Pode parecer um detalhe insignificante, mas para nossa pesquisa é uma verdadeira guinada, uma mudança de rota. Esta nova tradução resolve o nosso enigma. A palavra de Deus perpassa todo o texto. É mais do que um logos. É mais do que um conceito grego. É uma promessa. Isto nos remete a todo o contexto da aliança no Antigo Testamento. O anjo teria dito algo semelhante ao dito popular: Maria, Deus tarda, mas não falha. Seu argumento é o rema, ou seja as promessas de Deus cumpridas ao longo da história. O sim de Maria, sua decisão prudente, não é feita em base a um salto cego, mas em base a experiência da ação de Deus na história que cumpre todas as promessas que faz. Há aqui uma perfeita comunhão entre fé e razão, de modo que, no arquétipo da prudência, uma simplesmente não pode existir sem a outra. Foi isso que deu a segurança a Maria para toma sua decisão. Não é uma fé ingênua em uma palavra moralmente avalizada por Deus. Deus comprovou sua palavra cumprindo suas promessas ao longo de toda a História. Por isso não temos o que temer. Ele que sempre foi fiel cumprirá o que promete agora. Estamos diante de uma fé segura e prudente. Deus não exige da humanidade uma fé temerária e infantil. Quer uma fé provada no crivo do diálogo e do discernimento. Somente neste crivo da prudência é possível realmente ter fé.

É preciso destacar que este exercício arquetípico da prudência não se resume no mecanismo do discernimento. Ele inclui o momento da decisão. Não basta saber exatamente o que fazer. É preciso fazer. Então temos o genuíno uso da “virtude cardeal da prudência”. Maria disse “faça-se” e fez [14] . É o que disse nosso poeta Geraldo Vandré: Quem sabe faz a hora, não espera acontecer! [15]

O que diz a Fides et Ratio [16]

A partir desta moldura que acabamos de propor para a virtude da prudência como a define Santo Tomás (recta ratio agibilium), confrontada com o arquétipo da Virgem e do Anjo, no Evangelho de São Lucas, sugiro uma tarefa complementar: ler a Fides et Ratio para garimpar alguma contribuição que permita aprofundar cada passo do processo de discernimento prudente que estamos querendo entender melhor.

Em primeiro lugar é preciso concordar que os três passos descritos acima perfazem um itinerário da fé para a razão e da razão para a fé. Há uma articulação entre estas duas faculdades humanas, “como se fossem as duas asas de um pássaro pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade” [17] . Aliás, esta tal “contemplação” é também o “espanto” que descrevemos acima como princípio da arte e da filosofia, é a intuição. Existe uma meta, um bem final que é a busca da verdade. Isto Tomás deixa bastante claro [18] . Mas importa verificar os meios utilizados para atingir este fim. A encíclica lembra que realmente o princípio da filosofia é uma espécie de “assombro” [19] . Curiosamente a mesma encíclica vai dizer que a fé provoca um desassombro. Isto mereceria um mergulho especulativo mais denso. Mas nos limitamos a fazer esta pontuação. Escolhemos um texto em que João Paulo II parece resumir o propósito central de sua carta:

“Não podemos esquecer a necessidade que a atual relação entre fé e razão têm de um cuidadoso esforço de discernimento, porque tanto a razão como a fé ficaram reciprocamente mais pobres e débeis. A razão, privada do contributo da Revelação, percorreu sendas marginais com o risco de perder de vista a sua meta final. A fé, privada da razão, pôs em maior evidência o sentimento e a experiência, correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e radicalidade do ser. À luz disto, creio justificado o meu aplo veemente e incisivo para que a fé e a filosofia recuperem aquela unidade profunda que as torna capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da recíproca autonomia. Ao desassombro (parresia) da fé deve corresponder a audácia da razão.” [20]

Este cuidadoso esforço de discernimento é exatamente o que chamamos, com Santo Tomás de Aquino, a virtude cardeal da prudência. Desta maneira, tanto para fazer filosofia como para fazer teologia será necessário exercitar permanentemente a prudência que tem na sua dinâmica interna uma articulação entre fé e razão. Um pensador que prescinda de uma destas duas faculdades humanas certamente será imprudente. Ou seja, não chegará ao fim que se propôs, ou seja, o conhecimento da verdade.

Algumas reflexões finais

O exercício que começamos aqui deverá continuar. Há muitos elementos que precisam ser aglutinados para melhor compreensão da prudência enquanto faculdade de tomar a decisão correta. isto se aplica a todos os âmbitos da vida e não apenas ao explicitamente religioso ou filosófico. É preciso utilizar a prudência no discernimento vocacional, na decisão de comprar um carro novo, mudar de faculdade ou namorar esta ou aquela garota, este ou aquele rapaz.

Deveríamos, por exemplo, apreender as lições de Inácio de Loyola com suas regras de discernimento dos seus Exercícios Espirituais. Precisaríamos reler os filósofos que procuraram, como Kant, entender o dinamismo interno da razão prática, por meio da análise metafísica dos costumes. Seria interessante reler outras páginas da bíblia como a parábola do homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. É o que ouve a palavra e a põe em prática. É exatamente o arquétipo que encontramos no diálogo entre a Virgem e o Anjo.

Fixemos estes três momentos do processo: Retidão, Intelecção, Ação. Certamente será útil quando, num dia desses, um anjo lhe aparecer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

BENTO XVI e o Silencio dos Bispos - por pe Paulo Ricardo

Faltando três dias para a votação do segundo turno, o acalorado debate eleitoral ganhou um interlocutor de peso: o Papa Bento XVI.

Num discurso pronunciado, nesta manhã de quinta-feira, para bispos do Nordeste – reconhecida base eleitoral do PT de Dilma Rousseff – Bento XVI condenou com clareza “os projetos políticos” que “contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto”.

Com o discurso de hoje, Bento XVI rompe, desde o mais alto grau da hierarquia católica, o patrulhamento ideológico que o PT vem impondo a bispos do Brasil através de ameaças, pressões diplomáticas, xingamentos e abusos de poder.

É conhecida a absurda apreensão, a pedido do PT, de milhares de folhetos contendo o “Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras”, em que a Comissão em Defesa da Vida, da Regional Sul I da CNBB, exortava os católicos a não votar em políticos que defendam a descriminalização do aborto. É conhecida a denúncia do bispo de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, de que tem sido vítima de censura e perseguição por parte do PT (cf. Revista Veja). É arquiconhecida a prisão de leigos católicos que realizavam o “ato subversivo” de distribuir nas ruas o documento dos bispos de São Paulo.

O Papa convida os bispos à coragem de romper este patrulhamento e falar. Ao defender a vida das crianças no ventre das mães, os bispos não devem temer “a oposição e a impopularidade, recusando qualquer acordo e ambigüidade”.

O pronunciamento de Bento XVI ainda exorta os bispos a cumprirem “o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. E, numa clara alusão a uma das propostas do PNDH-3 do PT, se opõe à ausência “de símbolos religiosos na vida pública”.

Com seu discurso, o Papa procura evitar que o Brasil continue protagonista de um fenômeno que seria mais típico do feudalismo medieval, do que de uma suposta democracia moderna. De fato, durante a Baixa Idade Média, era comum que os posicionamentos e protestos mais decididos fossem os do Papa, enquanto os do episcopado local, mais exposto às pressões e ao poder imediato dos senhores feudais, eram como os de um cão atado à coleira. Pode até ensaiar uns latidos, mas quem passa por perto sabe que se trata de barulho inofensivo.

Ao apagar das luzes da campanha de segundo turno, o Pontífice parece preparar o terreno para que a Igreja do Brasil compreenda, sejam quais forem os resultados das eleições, que é inútil apelar para um currículo de progressos sociais e de defesas dos oprimidos do Partido dos Trabalhadores, quando seu “projeto político” está tão empenhado em eliminar os seres humanos mais fracos e indefesos no ventre das mães.

Segue abaixo o discurso do Santo Padre

Amados Irmãos no Episcopado,

«Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. GS, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o “Compêndio da Doutrina Social da Igreja”» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.

Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.


Fonte: Vaticano

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Simples e saudavel

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente


e comecei a ver  que tudo o que acontece é necessário para que um dia eu possa contar histórias...


Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável...

pessoas, tarefas, crenças, hábitos, tudo e qualquer coisa que me colocasse para baixo...


Quando me apaixonei por mim mesmo descobri...

quem apaixona-se por si...

não se decepciona nunca,  é mais feliz e consegue fazer os outros mais felizes também.

O nome disso é auto-estima!

http://www.simplesesaudavel.com.br/

terça-feira, 19 de outubro de 2010

UM AMOR ETERNO - por pe. Fabio de Melo

A capacidade de ver o outro de forma diferente

O amor só pode ser eterno à medida que vivermos a conquista do outro todos os dias. E isso só a partir do momento em que o amor de Deus incendiar a nossa vida. Nós só podemos ser livres quando temos dono, mas um dono que nos administre para o amor e para a liberdade. O meu Dono [Deus] me ama, tem apreço por mim! Não vai me sugerir nada que vá me fazer mal, porque Seu dom é amor. Ele não escraviza ninguém.

Para ter fogo é preciso ter lenha. Deus é o fogo. Nós precisamos ser essa lenha onde o Senhor queime. O Todo-poderoso não faz milagres para mostrar o Seu poder apenas, mas todas as manifestações do Senhor são para conquistar o coração que está ali. Ele assim fez com Moisés. A conquista vem por intermédio de coisas bonitas. Se você vai receber amigos, você oferece o melhor. Busca um jeito de manifestar o amor. É isso que Deus fez com esse profeta.

O “bonito” não se limita a um atrativo estético, interior. É você perceber algo a mais. É descobrir que alguma coisa daquela beleza supera as suas formas. É algo maior que me chama, que fala de mim, como se aquela beleza fosse algo que me faltasse. O amor é essa capacidade de ver o outro de forma diferente. No meio de tanta gente, alguém se torna especial para você e você se aproxima. O amor é essa capacidade de retirar alguém da multidão, tirá-lo do lugar comum para um lugar dedicado, especial. Alguém descobriu uma sacralidade em você.

Amar é você começar a descobrir que, numa multidão, alguém não é multidão. Quando alguém se aproximou de você foi porque você gerou um encanto nessa pessoa. O outro se sentiu melhor quando se aproximou de você. A beleza da totalidade que você tem faz o outro melhor. A primeira coisa que o amor esponsal e conjugal cura são as orfandades que a vida nos colocou.

Não acredito em um casamento que não tem Deus na sua história. Como o seu marido vai reconhecer a sacralidade do seu coração se ele não traz a consciência de todo o sagrado que você é? O amor, quando não é amor, vira competição, disputa. Por isso o amor que é iniciado e mantido em Deus será sempre um amor de promoção do outro.

O casamento é um encantamento pelo outro, o qual vai ganhando sentido quando o vou conhecendo. Assim, todos os dias você precisa se aproximar do outro e descobrir o motivo para continuar o respeito e a alegria de estar diante daquela, que é sua ajuda adequada.

Casamento em que o outro é opressão, não é amor. O amor leva para o alto! Se vocês não se promovem mais significa que vocês estão esquecendo a vocação primeira do matrimônio: o de acender o fogo do amor, da dignidade e da felicidade do outro.



Padre Fábio de Melo



FALANDO AO CORAÇÃO - por Lisiê Silva

Acalma-te coração!

Não me fale de emoção.

Não me faça viver mais uma paixão.

Lembra-te que os momentos vividos

são como paisagens vistas da janela de um trem,

que corre pelos trilhos da vida.

As paisagens são os momentos que passam rápido

pela nossa janela, e vão ficando para trás,

cada vez mais distante, até sumir de vista.

Param pela estação do tempo,

e desembarcam na lembrança.

Aquieta-te coração!

Esquece as lembranças do passado.

Você já amou e se doou demais!

Já chorou, já sofreu e já perdeu sua paz!

Lembra-te que o amor que sentiste,

foi uma viagem feita de pés descalços,

pelos caminhos de pedra à beira do precipício.

Qualquer deslize, uma queda fatal!

Sentiste os espinhos da ilusão a ferir os teus pés,

O medo, a incerteza, a dúvida e a razão

te fizeram abandonar o caminho das pedras,

mas não te livraram das feridas dos espinhos

que deixaram marcas em você, coração.

Aprende a andar com os pés bem firmes no chão!

Sossega, coração!

Sou a razão da tua existência,

Sou tua dona, teu juízo, tua mente.

Lembra-te dos vôos que alçaste,

Quando eu te dei asas e te libertei.

Subiste até às alturas e chegaste ao céu.

Conheceste vastos horizontes

experimentaste toda a beleza e a ternura

de viver um grande amor.

Mas depois voltaste ferido, sangrando, e eu te curei.

Te cuidei com todo o meu carinho

e te fiz mais forte que antes,

mas não consegui te fazer independente.

Não deixaste de ser um eterno sonhador.


 

Autoria: Lisiê Silva

(Jan/2003)

(Todos os direitos autorais reservados à autora)





sexta-feira, 15 de outubro de 2010

NUNCA DESISTIR - autor desconhecido

 Nunca desistir de acreditar... porque tudo é possível! Tudo é possível quando acreditamos, quando lutamos, quando temos determinação, quando queremos!

"Querer é poder", todos sabem! E "paciência é virtude"... é básico! É o segredo dos vencedores. Nunca desistir de acreditar... porque tão somente não sabemos o futuro! E a vida, a caminhada, é ela mesmo uma incógnita, imprevisível; nada permanece, tudo se altera!

Não sabemos o que o dia de amanhã nos reserva! Porquê desistir então? Porquê desistirmos antes de acontecer? Porquê desistir de acreditar? Nunca desistir de acreditar... porque conseguimos sempre mais do que julgamos possível conseguir!

A vida dá-nos sempre oportunidades e oportunidades! Nunca desistir de acreditar... porque nós temos um poder imenso dentro de nós e que não julgamos ter! Nunca desistir de acreditar no Bem, no Amor, na Amizade... porque a esperança é que nos faz caminhar no caminho da Felicidade.

Nunca desistir... de sonhar, porque o sonho comanda a esperança, o objectivo, a motivação, a força de vontade, a determinação e a perseverança!

Nunca desistir de sonhar... porque só acreditando é possível concretizarmos o sonho de sermos felizes. Nunca desistir... porque quem desiste nunca vence. Ou dito de outra forma, os vencedores da vida, do amor, do caminho da felicidade... nunca desistem!

MUSICA: GOSTAVA TANTO DE VOCE - por Tim Maia


Não sei porque você se foi

Quantas saudades eu senti

E de tristezas vou viver

E aquele adeus não pude dar...


Você marcou na minha vida

Viveu, morreu

Na minha história

Chego a ter medo do futuro

E da solidão

Que em minha porta bate...


E eu!

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você...


Eu corro, fujo desta sombra

Em sonho vejo este passado

E na parede do meu quarto

Ainda está o seu retrato

Não quero ver prá não lembrar

Pensei até em me mudar

Lugar qualquer que não exista

O pensamento em você...


E eu!

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você...


Não sei porque você se foi

Quantas saudades eu senti

E de tristezas vou viver

E aquele adeus não pude dar...


Você marcou em minha vida

Viveu, morreu

Na minha história

Chego a ter medo do futuro

E da solidão

Que em minha porta bate...


E eu!

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você...


Eu corro, fujo desta sombra

Em sonho vejo este passado

E na parede do meu quarto

Ainda está o seu retrato

Não quero ver prá não lembrar

Pensei até em me mudar

Lugar qualquer que não exista

O pensamento em você...


E eu!

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você...


Eu gostava tanto de você!

Eu gostava tanto de você!

Eu gostava tanto de você!

Eu gostava tanto de você!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Deus é misericórdia - por 'Pe. Fabio de melo




Neste vídeo Pe. Fábio fala sobre sua música "Humano demais", dizendo que ele compôs esta música num momento em que estava muito intrigado com as escolhas de Jesus, pois havia crescido escutando que Deus gosta dos "bonzinhos", mas que depois percebeu que isto não era bem assim, pois Jesus tinha uma capacidade imensa de trazer para perto dele os piores. Jesus nos ensina que Deus é misericórdia, e está sempre nos olhando com olhos cheios de amor, independente de onde estejamos. É esta misericórdia de Deus que motiva Padre Fábio a ser padre, lhe dá o desejo de anunciar o Evangelho a tantas pessoas que estão indiferentes à esta verdade do Amor de Deus.

Deus é misericórdia - por Marcio Mender CN

A realidade mais importante é que Deus perdoa. Ele perdoa sempre!


Não importa o que você já fez; importa o que você é agora, que o seu coração queira a misericórdia; se houver um mínimo de arrependimento Deus por aí entrará.

Deus detesta o pecado porque destrói você e acredite: você é mais importante do que pensa. Deus é bom! Em sua misericórdia, Ele não sabe deixar de perdoar.

Ele conhece as nossas fraquezas, sabe que somos fracos; mas se com sinceridade abrirmos agora, diante dele, nosso coração; Ele nos encherá de esperança, nos perdoará e nos curará como jamais imaginamos. Às vezes, nada nos regenera tanto para a esperança, quanto dizer: Eu pequei. Perdão!

Quando estamos arrependidos, Deus desvia os seus olhos de nossos pecados e apaga as nossas culpas. Ele não está olhando para os seus erros, mas para você, com olhos cheios de amor.

Não é a tristeza, nem a culpa o esmagando que Deus quer, nem o castigo; Deus quer a misericórdia e não o sacrifício.

Se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça. Um coração arrependido, Deus não despreza. Querer arrepender-se já é arrependimento.

E pensar que tudo que Deus precisa é de uma palavra sua, uma decisão, que você apenas queira e Ele lhe dará a oportunidade de um reinício tão formidável que você só poderá dizer: Nasci de novo!

Queira! Peça a ele, agora, a sua misericórdia! Não deixe para amanhã a sua confissão. Você ressuscitará!

Márcio Mendes

marciomendes@cancaonova.com

Missionário da Comunidade Canção Nova, formado em teologia, autor dos livros "Quando só Deus é a resposta" e "Vencendo aflições, alcançando milagres".



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A FELICIDADE DO PERDÃO - por Pe. Luis Fernando Soares

Salmo: Lucas 1,46-55
Leitura: Salmo 32(31)

Introdução:

Pecado, uma palavra bastante incômoda, que parece não fazer mais parte do vocabulário de pessoas modernas, livres de sentimentos de culpa e preconceitos. É verdade que os tempos mudaram, mas os preceitos do Senhor continuam os mesmos. Deus nos ama e por isso, coloca regras e limites para nós, como um sinal de trânsito vermelho, que indica “pare”! Quando não obedecemos ao sinal, provocamos acidentes que podem machucar ou serem fatais para nós e para os outros. Deus ao nos dar suas orientações, age como pai, que quer o nosso bem e por vezes, proíbe para que tudo venha a correr bem para nós. Só aceita o pecado como desobediência a Deus aquele (a) que se vê, amado (a) por Ele e confia plenamente Nele. Para aquele (a) que pecou, Deus age com misericórdia e perdoa. O perdão de Deus é maravilhoso, pois nos coloca novamente no caminho da felicidade.

1 – O perdão de Deus traz felicidade:
“Feliz aquele cujas maldades Deus perdoa e cujos pecados ele apaga!” (versículo 1).Todos nós desejamos a felicidade. Às vezes, pensamos que qualquer coisa ou pessoa pode nos fazer feliz. Você já ouviu a seguinte expressão: “Eu tenho o direito de ser feliz”. Muitas vezes esta frase é dita por pessoas que andam na contramão da vontade de Deus. O que importa, muitos dizem, é que eu seja feliz a qualquer preço. Mas é interessante notar que muitas pessoas que repetem constantemente esta frase, na verdade, não são felizes. Querem se convencer e convencer os outros que são, mas por dentro, estão tristes, angustiadas, trazem sentimentos de culpa e remorso. Somente o perdão de Deus pode restabelecer a paz e trazer a verdadeira felicidade.

2 – O pecado traz consequências:
“Enquanto não confessei o meu pecado, eu me cansava, chorando o dia inteiro. De dia e de noite, tu me castigaste, ó Deus, e as minhas forças se acabaram como o sereno que seca no calor do verão.” (versículo 3-4). O pecado gera múltiplas e graves consequências, em todos os campos:
• Área física: “eu me cansava”- (versículo 3b) – doenças.
• Área emocional: “chorando o dia inteiro.” – (versículo 3c) – angústia, medo e depressão.
• Área financeira: “como o sereno que seca no calor do verão” – (versículo 4b) – tempo seco, miséria.

3 – Outras consequências do perdão de Deus:
- “Então eu te confessei o meu pecado e não escondi a minha maldade. Resolvi confessar tudo a ti, e tu perdoaste todos os meus pecados.” (versículo 5) - reconciliação com Deus, paz com Ele, consigo mesmo e com os outros – volta ao equilíbrio interior.
- “Por isso, nos momentos de angústia, todos os que são fiéis a ti devem orar.” (versículo 6) - certeza de vitória em todos os momentos, pois existe consciência da presença e proteção de Deus.
- “Tu és o meu esconderijo; tu me livras da aflição. Eu canto bem alto a tua salvação, pois me tens protegido.” (versículo 7) - alegria interior. O pecado provoca tristeza; o perdão traz alegria.

Conclusão:

Quando há o genuíno arrependimento, Deus apaga completamente os pecados do homem, e, assim como dista o oriente do ocidente, Deus os aparta completamente e nunca mais o homem se lembrará deles.

Que Deus o(a) abençoe!


Pe Luis Fernando Soares

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

QUANDO A DOR É MAIOR - por Rosemeire Zago


Dor! Dor da indiferença, do desprezo, do abandono, da perda. Com certeza são dores que fazem sangrar mais que qualquer ferida. Faz nos sentir sem valor, diminuídos, sem energia ou forças sequer para respirar, e o pior, faz nos sentir seres indignos de receber amor.

Coloca ainda em risco nossa saúde mental, levando-nos muitas vezes a acreditar que nunca a tivemos. Ficamos sem rumo, sem o chão para nos apoiar, porque quase sempre não temos com quem contar, um ombro para chorar. Auto-estima e amor-próprio não fazem mais parte de nossos sentimentos. Perde-se o controle das palavras, das ações e até de si mesmo.

O desejo racional nestes momentos raramente coincide com o desejo emocional. A razão pede para ir embora e a emoção pede para ficar, com o desejo enorme de encontrar alguém que venha nos salvar. Espera-se que alguém tire essa dor que dilacera tudo por dentro. Pura ilusão, pois a única pessoa que pode fazer algo por você, melhor que qualquer outra pessoa, é você mesmo, mesmo que se sinta incapaz para isso.

A melhor forma de nos frustramos é esperarmos que alguém mude ou faça o que esperamos. Quando somos levados apenas pelas emoções, parece que perdemos o controle e não conseguimos discernir mais o certo e o errado. As emoções não obedecem à razão. O que fazer então, quando o conflito é gerado por tantos sentimentos?

É preciso neste momento tentar descobrir a causa da dor. Se continuar chorando, gritando, controlando, cada vez mais ficará com a dor que tanto machuca. Deve-se também buscar a certeza de qualquer atitude que vá tomar, para que não transforme o conflito em mais sofrimento ou arrependimento, muitas vezes impossível de ser transformado.

Por mais que possamos responsabilizar alguém por nossas dores, somos nós mesmos que a causamos ao permitirmos que tal situação permaneça. Podemos culpar pais, irmãos, namorados, chefes, mas isto nada adianta. A dificuldade está dentro de cada um de nós por não conseguirmos mudar os fatos, que por vezes podem ser difíceis de serem aceitos.

É a interpretação que damos aos acontecimentos e situações que nos leva ao sofrimento. É quando esperamos algo que nunca vai chegar. Vale lembrar da Oração da Serenidade, adotada pelos Alcoólicos Anônimos no mundo inteiro:

Já chorou tudo o que tinha para chorar, agora é hora de sair da posição de vítima, que não nos permite sair do lugar e tornar-se responsável pela própria vida. Chega de lamentações. Muitos machucam aos outros e a si mesmo para conseguir o que esperam, fazendo de tudo para resgatar o que um dia acreditou.

É claro que muitas vezes alguém pode realmente tê-lo machucado, porém isto não deve servir de pretexto para manter o que tanto machuca. Ninguém está livre de problemas e nem das contrariedades da vida, mas manter tudo isto ou não só depende de cada um de nós. Se uma situação é intolerável, se você se sente desprezado, rejeitado, por que manter tal situação?

Não é preciso perder sua saúde mental para só depois tentar fazer algo. O momento de reagir é agora, enquanto há o mínimo de forças. É preciso compreender que as soluções estão dentro de nós e não em outra pessoa ou situação externa. É importante às vezes sairmos fora de nós mesmos e observarmos a situação como se estivéssemos assistindo a um filme, para então podermos colocar luz onde é só escuridão.

É sua responsabilidade fazer algo para melhorar. Não espere que o outro te dê amor, carinho, atenção, colo, te faça se sentir importante, você é quem deve se dar tudo isso. Devemos aprender a aceitar o que não pode ser mudado, aprender que não podemos colocar sentimentos dentro de alguém e muito menos, colocar nossa capacidade de amar nas mãos de alguém.

Não é porque o outro não valoriza o que você é e faz que tudo isso não tem importância. Tem sim e muita. O outro é que não tem sensibilidade para perceber seu real valor. Então para quê continuar uma situação que machuca e te enfraquece tanto?

Tudo o que temos é o dia de hoje e dependerá de você vivê-lo da forma mais harmoniosa possível. Sua força vem de você e da construção de relacionamentos saudáveis com as outras pessoas e com você. As feridas podem e devem se cicatrizar, mas não permita que essa dor que dilacera e destrói tudo por dentro permaneça te fazendo desistir de você e de viver.

Lembre-se: amor, atenção, carinho e amizade não se pede. Apenas se recebe.

Por:

Rosemeire Zago



terça-feira, 5 de outubro de 2010

SONHE E VOE

Oração de São Francisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor;

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;

Onde houver discórdia, que eu leve a união;

Onde houver dúvida, que eu leve a fé;

Onde houver erro, que eu leve a verdade;

Onde houver desespero, que eu leve a esperança;

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais

Consolar, que ser consolado;

compreender, que ser compreendido;

amar, que ser amado.

Pois, é dando que se recebe,

é perdoando que se é perdoado,

e é morrendo que se vive para a vida eterna.




Como a cultura organizacional afeta seu crescimento profissional

Como a cultura da empresa afeta seu crescimento profissional? "Cada empresa está baseada em um tipo de cultura organizacional e...