A mais nobre paixão humana é
aquela que ama a imagem da beleza em vez da realidade material. O maior
prazer está na contemplação.
Consultando os livros sobre
Arte existentes numa biblioteca, em especial aqueles que contêm exemplos
de obras de arte elaboradas em tempos remotos, como as obras antigas,
renascentistas, neoclássicas, românticas etc, é possível constatar como o
modelo de beleza, em especial o feminino, mudou radicalmente ao longo
da História da humanidade. Assim, as pinturas e esculturas, ao longo dos
séculos, informaram as várias gerações enquanto linguagens imagéticas
que sempre foram quais eram as características físicas daqueles que, por
possuí-las, expressavam o ideal de beleza de um ser humano.
Por muitas eras, esse
modelo de beleza consistia em estruturas ósseas muito fortes em corpos
muito pesados e repletos de contornos: eram épocas em que reinavam como
belas as “pessoas” grandes e gordas: a Vênus de Milo, Helena de Tróia,
os heróis da Antigüidade (todos musculosos e enormes), as musas
greco-romanas, a Mona Lisa e todas aquelas mulheres que, como dizem até
hoje os muçulmanos com um sorriso de satisfação, “enchem uma cama”.
No século XX, porém, o
rompimento total com esse modelo aconteceu por causa do materialismo
voraz que tomou conta de tudo e de todos. Desde o início da
industrialização e do sistema capitalista, tudo se tornou uma
mercadoria.
Com o passar do tempo,
além daquela mercadoria que o trabalhador vendia - a sua força de
trabalho, a mão-de-obra humana – muitas pessoas que se enquadravam no
então modelo ideal de beleza passaram a vender a sua imagem e, através e
graças a essa imagem, passaram também a vender de tudo que fizesse com
que as outras pessoas acreditassem que seu “consumo” as tornariam também
belas, as colocariam dentro desse padrão. Até hoje é assim: esperando
ficar igual à garota propaganda, por exemplo, as consumidoras compram o
que podem e o que não podem; o mesmo acontece com os homens, pois há
muito a vaidade deixou de ser uma característica predominantemente
feminina.
O modelo ideal de beleza
humana tornou-se aquele em que, dentre outras características, as
pessoas têm que ser magérrimas. Livros, cosméticos, dietas, cirurgias
plásticas, aparelhos de ginásticas, remédios, tratamentos e tudo que
leva alguém a ter a estética perfeita em termos físicos é muito vendido
inclusive com a grande colaboração dos meios de comunicação de massas,
principalmente da televisão que, em período integral, mostra o
supra-sumo da beleza humana vigente e vende ininterruptamente milhares
de produtos.
É por isso que a indústria, o comércio e a mídia a serviço da estética humana têm um lucro inimaginável.
Por outro lado, essa
fatia bem sucedida da economia de qualquer sociedade capitalista ainda
tem como aliada a idéia – da qual ninguém discorda - de que a gordura em
excesso é uma doença e uma dieta saudável, exercícios físicos e uma
rotina com qualidade são imprescindíveis para uma vida saudável. Este,
sem dúvida, é o aspecto positivo de tudo que aqui está sendo tratado e
há inúmeras e importantes pesquisas já publicadas em livros sobre o
assunto, o que também torna essa literatura economicamente bem sucedida.
A obsessão em se
enquadrar a qualquer custo no modelo de beleza atual, em obter o corpo
perfeito para fim meramente estético, como toda obsessão, é uma doença
tão ou até mais preocupante do que a obesidade mórbida e tem levado
muitas pessoas a iniciarem, sem consultar profissionais especialistas no
assunto, dietas rigorosas por conta própria e a violentar o corpo. O
resultado disso é o surgimento de doenças que podem levar à morte:
anorexia, bulimia, anemia profunda, leucemia, desnutrição etc.
O Brasil tornou-se um
dos principais países em quantidade de cirurgias plásticas. Enquanto a
França exporta perfumes, o Brail exporta “corpos”. Recentemente, uma
pesquisa realizada nos Estados Unidos comprovou que apenas 2% das
pessoas se acham bonitas. Um dado assustador, pois se 98% das pessoas se
acham feias de alguma forma, o objeto de desejo estabelecido não está
sendo alcançado. O que as pessoas precisam perceber é que cada uma
possui sua beleza particular e principalmente que a beleza mais
importante está sendo esquecida: a beleza interior. Se a
pessoa estiver feliz, de bem consigo mesma, as outras também a acharão
bonita exteriormente, pois a beleza interior é fundamental e se reflete
no físico de quem a tem. Dorian Gray, personagem-título do livro “O
Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, depois de seu pacto com as
forças do mal, era eternamente belo e jovem, mas como sempre teve índole
igualmente maligna, os reflexos de sua feiúra interna eram marcados em
seu retrato, uma representação de sua alma em forma de pintura. Assim,
Dorian Gray era alguém muito belo por fora e horrível por dentro. O
final da história dessa personagem tão famosa, o leitor saberá ao ler o
livro, pois não o privaremos desse prazer e dessa lição.
Por mais que faça uma
cirugia reparadora ou dezenas de sessões estéticas em busca da beleza,
se a pessoa não mudar seu estado de espírito, ela continuará se achando
feia ou fora do padrão e todos a sua volta certamente terão a mesma
opinião. Já as pessoas que são extremamente bonitas interiormente são
admiradas por muitas outras.
De que adianta uma pessoa ser
fisicamente linda, se a sua maneira de ser, de agir, de tratar os
outros, de se expressar não são de agrado daqueles que com ela convivem ?
De nada adianta, pois essa pessoa estará constantemente sozinha mesmo
sendo muito bela.
O contrário disso também vale:
uma boa conversa, uma manifestação de sabedoria, um sorriso, uma
palavra agradável e confortante muitas vezes fazem com que o feio bonito
pareça e esteja sempre rodeado de outras pessoas.
O materialismo radical
da atualidade, que exige a aparência ideal nas atividades profissionais e
pessoais, leva as pessoas a conjugar apenas um verbo: ter. No intuito
de querer ter, o ser humano da atualidade está se esquecendo do mais
importante: SER. Ser bonita é algo bom e necessário,
mas não é o essencial. Ser inteligente, ser sociável, ser ética, ser
generosa, ser livre, ser feliz! Essas são as características da
verdadeira beleza humana. Afinal, a voz do povo é a voz de Deus: de que
adianta por fora ser bela viola se por dentro se é um pão bolorento?
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