Certa vez uma leitora me pediu que comentasse sobre o significado da seguinte frase: “Que a morte de um ente querido seja luz para a nossa vida!”.
À primeira impressão, pode nos parecer que essa afirmação seja totalmente incoerente. “Como pode a morte de alguém que amamos servir-nos de luz?” – você poderia perguntar.
Vou procurar falar disso sem tocar em nenhuma religião em específico, para não parecer tendencioso.
Vivi muitos ano no Japão e lá as estações do ano são muito bem definidas. Então, aprendi a observar com cuidado o ciclo da vida.
No outono, as folhas das árvores começam a mudar de cor, tornam-se
vermelhas, ou alaranjadas, ou marrons, até que caem todas, deixando as
árvores apenas nos troncos e galhos.
Então, entra o inverno…
Durante todo o inverno, as árvores ficam desfolhadas, secas, com a
aparência nítida de que não têm vida, de que morreram para sempre. Os
insetos somem, os pássaros desaparecem, a temperatura esfria, como se o
sol não voltasse mais a nos aquecer, o céu fica cinza e só clareia
quando a neve cai e cobre todo o solo. A vegetação, já aparentemente sem
vida, some então sob a neve. Tudo é muito triste e parece ser o fim.
E depois, chega a primavera…
O céu se abre aos poucos e, com os primeiro raios de sol da
primavera, de repente, podemos observar uma borboleta saindo do casulo,
alguns insetos voando, aranhas, na maioria filhotes que acabaram de sair
dos ovos, armando suas teias, pássaros piando, depois voando, depois
cantando, depois montando seus ninhos. E os novos filhotes ganhando os
céus e trazendo música para a vida.
Olhando-se mais de perto para aquelas árvores aparentemente sem vida,
passamos a observar centenas de pequenos brotos, cheios de força, sendo
chamados novamente à vida.
Depois de poucas semanas, toda a exuberância da natureza está
restabelecida, toda a beleza nos é devolvida. Toda a vida renasce
daquilo que poderíamos jurar que estava morto.
É assim o ciclo da vida…
Mas o que isso tem a ver com a pergunta daquela leitora?
Bem, eu disse que não falaria de religião, mas não disse que não falaria de Deus. Então eu lhe faço apenas uma pergunta: “Se
Deus tem todo esse cuidado com o restante da natureza, por que razão
não teria esses mesmos cuidados, ou até mesmo ainda mais cuidados,
conosco, que somos Seus filhos feitos à Sua semelhança?”
Isso tudo, para mim, diz apenas uma coisa: a vida não termina. Ou
ainda, a NOSSA vida também não termina. Ela se renova a cada primavera
(ou a cada morte e a cada nascimento).
Não vou entrar no mérito dessa questão para, como eu já disse, não
ser tendencioso. Mas não posso negar a grandeza deste mundo de Deus, que
pude presenciar por anos a fio observando a natureza.
Então, se pensarmos que somos partes desse imenso universo de Deus e,
como tudo, apenas nos renovamos, por que deveríamos temer ou chorar a
morte?
Veja bem, não estou dizendo que não tenhamos sentimentos de tristeza
com a separação de nossos entes queridos. Apenas quero dizer que, quando
um ente querido se vai do nosso convívio, devemos sim curtir a nossa
tristeza, pois isso faz parte da nossa natureza e é necessário para
lavar a nossa alma e refrescar o nosso coração. Mas podemos também
aprender a ver nessa partida a beleza da renovação da vida.
A partida de um ente querido pode nos chamar a atenção para a
grandiosidade da vida, da mesma forma como o nascimento de um filho o
faz.
Essa consciência da nossa condição temporária neste mundo e da nossa
eternidade como filhos de Deus nos vem a partir desses dois
acontecimentos: o nascimento e a morte.
Encarar a morte de um ente querido pode abrir, então, nossos olhos
para a luz da compreensão da nossa existência: Será mesmo a morte tão
definitiva? A natureza nos diz que não!
Podemos nos tornar mais fortes e confiantes nesses momentos de
provação, se os aproveitarmos para compreender a grandeza e a beleza da
vida que Deus nos deu.
Pense sobre isso!
Um abraço e muita Paz!
Gilberto Cabeggi
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