Virou rotina ler declarações de bilionários do setor de alta tecnologia descrevendo um futuro sombrio para o mercado de trabalho mundial. A altíssima especialização e o desenvolvimento da inteligência artificial tornariam obsoleta a maior parte dos trabalhadores tradicionais.
No fim de 2014, o presidente e cofundador do Google, Larry Page, deu sua previsão em uma entrevista ao jornal americano The Financial Times: 90% do trabalho feito atualmente por humanos será realizado por robôs em poucos anos. Seria exagero? Ou estamos despreparados para uma transformação global?
Um livro traz mais nuvens negras para esse cenário de apocalipse — e também uma brisa de otimismo. Em The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies (“A segunda era das máquinas: trabalho, progresso e prosperidade em um tempo de tecnologias brilhantes”, numa tradução livre, ainda sem edição no Brasil), os autores Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee explicam por que há razões para se preocupar.
A dupla, que leciona na Sloan, escola de negócios do Massachusetts Institute of Technology, estuda o impacto da tecnologia na economia e no mercado de trabalho. No livro, buscam as origens das transformações tecnológicas atuais e verificam onde estão ocorrendo com maior intensidade. 
Como ficam os humanos? 
Nos últimos anos, os avanços conquistados nas áreas da informática e da inteligência artificial cresceram rapidamente. Os exemplos estão por aí. São os carros autônomos do Google, que rodam com segurança sem nenhuma interferência humana, graças a um complexo sistema de sensores e software embarcados.
Ou o robô Watson, da IBM, que venceu humanos no famoso jogo americano Jeopardy!, de perguntas e respostas. Ou a assistente pessoal Siri, da Apple, com seus algoritmos capazes de reconhecer a linguagem humana. Nessas experiências, as máquinas começam a ocupar terrenos antes vistos como de domínio exclusivo dos homens. 
“Falamos sobre as descobertas de nossas pesquisas com muitos grupos diferentes, e quase toda vez uma das primeiras perguntas é algo como: ‘Eu tenho filhos na escola. Como deveria prepará-los para o futuro que vocês descrevem?’ E não são apenas pais os preocupados com as oportunidades de carreira na segunda era das máquinas”, escrevem os autores.
Sim, qualquer projeção sobre os limites da capacidade das máquinas pode estar subestimada, já que os computadores se mostram aptos a executar tarefas que antes pareciam impossíveis.
Mas nem tudo está perdido. Em cada um dos casos levantados por Erik e Andrew, encontra-se também um padrão de atividades que os robôs ainda não conseguem fazer — e que provavelmente não farão. “Nunca vimos uma máquina verdadeiramente criativa, ou uma empreendedora, ou uma inovadora. Já vimos software capaz de escrever textos com  rimas, mas nenhum capaz de escrever um poema de verdade”, relatam os autores. “Essas atividades têm uma coisa em comum: a criação de novas ideias.”
Felizmente, com os baixos custos de produção, o abundante fluxo de informação e o aumento das redes de contato, ficou mais fácil ter boas ideias e executá-las. O fato de empresas como o Facebook terem passado de projetos de faculdade para companhias multibilionárias demonstra esse ponto.
Mas não são apenas os empreendedores que têm vantagem sobre o avanço implacável das máquinas. “Cientistas criam novas hipóteses. Jornalistas farejam boas histórias. Chefs adicionam novos pratos ao menu. Engenheiros numa fábrica entendem por que uma máquina não está mais funcionando adequadamente.
Steve Jobs e seus colegas na Apple descobriram que tipo de tablet nós realmente queríamos”, listam os pesquisadores. “Muitas dessas atividades são apoiadas e aceleradas por computadores, mas nenhuma é orientada por eles.”
Além de ser altamente inovadora, a força de trabalho do futuro precisará se integrar a essas novas tecnologias, qualquer que seja a área de atuação.
Nem todo mundo vai trabalhar como programador ou como engenheiro de inteligência artificial. Mas a presença de softwares e máquinas no ambiente de trabalho será irreversível em todos os mercados.
Quanto mais adaptados os profissionais estiverem a essa realidade, aprofundando-se no entendimento de como as ferramentas funcionam e podem melhorar seu desempenho no trabalho, mais fácil será navegar — e sobreviver. Ou, como diz Kevin Kelly, um dos fundadores da revista Wired, “no futuro, você será pago com base em quão bem você trabalha com robôs”. 
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FONTE: http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/201/noticias/ser-inovador-vai-te-salvar-de-ser-substituido-por-um-robo